Tornar-me Escritor #10 –

Estou a ler o “Manual de Sobrevivência de um Escritor” de João Tordo.

Aqui escrevo as minhas considerações sobre o que tenho lido neste livro:

No livro, no capítulo “Dinheiro”, João Tordo faz contas simples que mostram a complexidade do mercado de venda de livros. Mostra-nos que as possibilidades de ganhar dinheiro com a escrita ao ponto de viver dela são muito poucas.

Penso que o objetivo do autor, ao fazer as contas ao dinheiro e às publicações, é fazer o escritor realmente pensar se quer ou não enveredar pelo caminho turbulento que a profissão de escritor exige. Além disso, João Tordo, parece querer advertir-nos para o facto de que ter outras fontes de rendimento, além escrita, é meio caminho andado para uma escrita mais inspirada, por ser menos apressada, e uma vida menos stressante, por reduzir o medo de não sobreviver financeiramente.

João Tordo fala de que algumas pessoas estão condenadas à escrita, no sentido em que nos urge o íntimo que larguemos tudo e façamos da escrita o motivo da nossa vida. Eu concordo, até certo ponto. Gosto do romanticismo desta ideia de condenação. Para quem gosta de escrever, há de facto algo em nós que nos pede que derramemos sangue por isto, que escrevamos e pronto. Que escrevamos muito e todos os dias. No entanto, apesar de estar ciente de que vou encontrar muitos desafios e dificuldades no caminho para a escrita profissional, quero garantir que este processo seja sempre de alguma forma prazeroso, ao invés de uma condenação.

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Não quero uma preocupação constante com vendas. Quero, claro, que os livros vendam, que vendam muito, e vão vender. Mas, acima de tudo não quero depender disso para a minha estabilidade financeira, psicológica e emocional. Amo fazer outras coisas e quero ter outras profissões além da escrita. Assim terei estabilidade.

Acho que este livro me ajudou a abrir mais os olhos no sentido de me entregar à arte por gosto pelo processo, sem pensar tanto nos retornos. Ao focar-me mais nos potenciais ganhos do que na relação entre mim esta paixão, desvio me do verdadeiro propósito da arte: a falta de propósito, a beleza do ofício em si mesmo, sem razões.

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É isto que deve ser a expressão artística: entrega de sangue e suor, de corpo e alma à autoexpressão, à autocompreensão e uma partilha de perceções.

Aprendi isto. Vou dedicar-me muito, sempre muito, mas acima de tudo vou desfrutar do trabalho em si mesmo. A abundância e o sucesso são consequência natural desta entrega e desta presença.